Se a questão das relações bilaterais são de interesse mútuo para o seu aprofundamento, como ficou claro em Março de 2023, quando Macron esteve em Luanda por algumas horas, anunciado que Angola é uma prioridade para Paris, a situação complexa da presença francesa em África não foi assunto afastado da mesa onde os dois Chefes de Estado se sentaram.

Este encontro no Palácio do Eliseu, a sede da Presidência francesa, em Paris, tem uma importância extra para João Lourenço, não apenas porque a França é um dos maiores investidores estrangeiros no país, devido, especialmente ao gigante petrolífero TotalEnergies, mas porque encaixa na viragem estratégica que Angola está a fazer no seu consulado para ocidente.

E para Emmanuel Macron, a questão não é menos importante, porque o seu homologo angolano é, na actualidade, uma das figuras africanas mais em voga no que diz respeito aos esforços regionais de estabilização, como é o caso dos Grandes Lagos e a saliente crise RDC/Ruanda, como se prepara para assumir a Presidência da União Africana em Março.

Estando a França a atravessar um dos momentos mais melindrosos no continente deste a vaga das independências nas suas antigas colónias, nos anos de 1960, com ênfase para o desmoronamento da "FranceÁfrique" no Sahel, após o corte de relações abrupto com o Mali, o Burquina Faso ou o Níger e o arrefecimento dos laços históricos noutros, como o Gabão ou a Guiné-Conacri, esta consolidação das ligações a Luanda a pode ser vista como uma procura de retomar a iniciativa no continente.

O Le Monde, o grande jornal de referência francês, noticia hoje que Macron recebe no Eliseu o Presidente de Angola, "um país rico em petróleo" que é um dos mais prioritários para Paris, sublinhando que a economia é o diapasão que marcará as relações bilaterais futuras, sendo este país europeus o maior investidor estrangeiro em Angola.

O jornal não contorna a questão da degeneração da presença francesa em África, notando que "a solidez dos laços da França com África são questionados", o Presidente angolano está bem posicionado, nota Le Monde, para se tornar "um dos melhores amigos de Paris no continente", embora a frase seja precedida de um ponto de interrogação.

A notícia de Le Monde, jornal que é uma marca de água no que toca ao tema das relações internacionais do país, não responde à questão, mas nota que não apenas Macron esteve em Luanda em 2023 como João Lourenço já tinha estado em Paris em 2018, apontando uma nesga de caminho a seguir, que é a entrada de Angola na Organização Internacional da Francofonia (OIF), estando já na sua antecâmara enquanto observador desde Outubro do ano passado.

E fica claro na abordagem de Le Monde a esta visita de Lourenço à França que o Eliseu etsá apostado em fazer germinar deste terreno comum com Luanda uma sólida relação que, de alguma forma, possa substituir a importância que perdeu na geografia mais próxima historicamente da África Ocidental e do Sahel...

Um ponto que não vai passar ao lado da conversa entre estes dois homens e das suas comitivas é a crise grave no leste da RDC, com as guerrilhas a desestabilizarem toda a região, na qual tanto a França como Angola têm interesses que não escondem, procurando, ao mesmo tempo evitar uma guerra entre Kinshasa e Kigali e furar a sólida presença chinesa na região, onde também a Rússia tem procurado um espaço de influência para aceder às riquezas do subsolo congolês.

A França e os EUA estão na linha da frente dos esforços ocidentais para recuperar o "território de interesses estratégicos" para a China na vasta e rica em recursos naturais região dos Grandes Lagos, onde surge como uma lanterna em noite escura o atrito ruanda-congolês, para o qual Lourenço é o principal mediador na condição de "Campeão da União Africana para a Paz e Reconciliação em África".

Tal como Le Monde, também a RFI destaca esta visita de Estado do PR angolano a França entre hoje, e sexta-feira, 17, apontando em primeira linha a questão da crise no leste congolês, citando a Presidência francesa que diz que "A França apoia totalmente, fortemente e activamente o processo de Luanda onde o Presidente João Lourenço medeia os esforços de pacificação da crise entre Kigali e Kinshasa".

Analisar e Este é um assunto em cima da mesa, mas a RFI vai mais longe e diz que "todos os assuntos estarão em cima da mesa", incluindo o apoio de Paris a uma eventual frente ocidental de aplicação de sanções ao Ruanda, num processo que o Chefe de Estado angolano deverá ser um pilar relevante nos eu desenho quando assumir a liderança da União Africana no final de Fevereiro.

Como fica saliente nos diversos acordos bilaterais assinados no âmbito desta visita de Estado de João Lourenço, para Angola a questão do investimento francês, na abrangente estratégia de Luanda para a diversificação da economia nacional, é fulcral, porque o monoinvestimento no Francesa para o Desenvolvimento deverá ser o pilar de um "gigantesco projecto de irrigação" e de recuperação da fileira do café.

Mas a indústria, a saúde e a educação, entre outros sectores, são igualmente temas vistos como essenciais pelo lado angolano, e isso não vao estar fora dos assuntos que Macron e Lourenço levaram nas suas agendas para o encontro desta quinta-feira, 16, no Eliseu...